sexta-feira, 17 de julho de 2009

O dia em que bebi água com açúcar

Hoje, 17 de julho, estamos celebrando 15 anos da conquista do Tetra. Um título que sepultou a chamada síndrome de vira-latas (by Nelson Rodrigues) que ameaçava regressar em razão dos 24 anos em que ficamos sem ganhar uma Copa do Mundo.

Tinha 10 anos na época, mas me lembro de tudo perfeitamente. O ceticismo reinava entre os brasileiros. Ninguém levava fé naquela seleção que suou para se classificar nas Eliminatórias (se não fosse aquela atuação endiabrada do Baixinho naqueles 2x0 sobre o Uruguai...), cujo técnico era fortemente execrado pela mídia e torcedores (cansei de ver campanhas da imprensa pedindo a volta de Telê Santana, então no auge no São Paulo). Eu era um dos pessimistas!

Acompanhei jogo a jogo da Copa de 94, comprava tudo referente à competição, como revistas, jornais, figurinhas, bandeiras... sem contar minha coleção de tabelas dos jogos. Saudades daquelas tabelinhas da Caixa, que vinham com as bandeirinhas dos países para colarmos nos confrontos a partir das oitavas-de-final até a decisão. Marcante também foi a comoção pelo assassinato do zagueiro colombiano Andrés Escobar, após este anotar um gol contra que desclassificou sua seleção, apontada como uma das favoritas ao título, na primeira fase.

Lembro da semifinal contra a Suécia. A partida ocorreu à noite, pelo horário de Brasília. Os escandinavos fizeram uma senhora retranca, com direito a pulinhos saltitantes do irreverente (e ótimo) goleiro Ravelli na linha de fundo e a Globo soltando uma vinheta de gol num chute do Mazinho em que a bola bateu na rede pelo lado de fora, após o zagueiro tirar em cima da linha a conclusão de Romário.

Após o gol da vitória, marcado de cabeça pelo Baixinho, não hesitei e saí pra rua para festejar a nossa primeira final de Copa desde 1970. Era por volta de onze da noite. Tinha só 10 anos de idade. Minha mãe ficou apavorada...

No dia da decisão, meu pai era o mais nervoso. O reflexo disso tudo é que ele sempre alega torcer contra a Seleção (até hoje ele é assim, ainda mais com todos os jogadores hoje atuando na Europa). Naquele 17 de julho de 1994 não foi diferente. Evitando querer assistir à final contra a Itália, ele não parava quieto, sempre se distanciava da TV e, do lado de fora da casa, bradava que o Brasil ia perder. Numa partida tensa como aquela, suas afirmações soavam como uma cruel tortura psicológica. Na verdade, tudo era fruto de seu profundo nervosismo.

Lá pela metade da prorrogação, logo após o gol perdido por Romário na pequena área, minha tensão chegou ao limite. Então, cheguei pra minha mãe e pedi a ela uma água com açúcar.

Nunca havia tomado. E tampouco voltaria a bebê-la depois daquele dia. Porém, como sempre dizem que água com açúcar serve para acalmar os nervos... Minha mãe preparou a água pra mim em plena prorrogação e a bebi, sem saborear. Afinal, aquilo tem um gosto esquisito! E nem surtiu muito efeito...

Hora dos pênaltis! Nem preciso dizer o sofrimento que foi, né?

E enquanto isso, meu pai continua escondido. Volta e meia, ele aparecia do nada. Vendo que a partida não saía do 0 a 0, novamente se retirava.

Após Roberto Baggio mandar a bola para as nuvens, o desafogo foi geral. O grito preso à garganta enfim se libertara. Galvão Bueno esguelava Pelé enquanto gritava "Acabou, é tetra!". No SBT, a figura do boneco Amarelinho (D) radiante reinava (lembram-se do Amarelinho? Marcou minha infância). O não tão vistoso futebol pragmático de Carlos Alberto Parreira, em preterição ao futebol-arte, enfim rendia frutos!

E a minha maior lembrança do Tetracampeonato não responde pelos gols de Romário, nem pelos palavrões de Dunga enquanto este erguia a taça: trata-se do sumiço de meu pai após a confirmação do título. Mas ele não estava longe. Apenas situado na frente de casa, no meio da avenida em pleno trânsito, gritando, comemorando e se rolando no asfalto, tal qual um doido varrido.

15 anos... Caramba, parece que foi ontem!

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