sábado, 27 de junho de 2009

Ainda sobre Michael: uma Aula de Jornalismo

Na última quinta-feira, quando o site especializado em celebridades TMZ publicou no fim da tarde (horário de Brasília) uma nota anunciando a morte do Rei do Pop, na hora veio a lembrança de algo ocorrido um mês antes, quando um hacker invadiu a home do site O Fuxico e comunicou o falecimento de Silvio Santos.

Presenciei a página no momento da invasão pirata e percebi no ato que era mentira, em função da matéria estar completamente mal escrita, sem a formatação adequada e, principalmente, por não conter qualquer tipo de informação, tampouco responder às sagradas questões "o quê?", "quem?", "quando?", "como?", "quando" e "por quê?".

Sem contar que a manchete estava redigida desta maneira: "SILVIO SANTOS MORRE". Ora, geralmente no Jornalismo não costuma se utilizar o sujeito abrindo a frase numa manchete tão objetiva. Nesse caso, é recomendável o verbo antes do sujeito.

Como reflexo da velocidade da Internet, o rumor do estado de saúde de Michael espalhou-se num piscar de olhos em todo o mundo. Porém, a notícia foi recebida de forma não-oficial pelos veículos, que corretamente anunciavam o ocorrido, mas com o complemento sempre importante de que a informação era oriunda de uma determinada fonte. Exemplo: "Michael Jackson está em coma, segundo site".

Como a apuração sempre é imprescindível e não havia no momento como realizá-la, tal complemento é sempre fundamental para se informar com responsabilidade algo não-oficial, notas que acenam para a possibilidade de boato ou "barriga" (jargão usado para notícia não-verdadeira), sob pena de perda de credibilidade. Afinal, com o advento da Internet, o número de informações falsas difundadas mundão afora é infinito...

Desliguei a Internet e fui acompanhar a cobertura dos canais de notícias Globo News, Record News e Band News, que mostraram passo a passo desde as primeiras informações sobre a internação do popstar (naquela oportunidade ainda muito vagas) até a confirmação de sua morte. Assim como as emissoras norte-americanas, seus jornalistas tratavam do assunto de maneira não-oficial. O objetivo maior era aguardar pelo comunicado oficial do hospital onde Michael fora internado, além de creditar os veículos responsáveis por novas informações.

Inclusive, alguns GCs de emissoras diziam que Michael Jackson estava internado em coma. As que informavam a morte do cantor revelavam como fonte o jornal Los Angeles Times, o segundo veículo a divulgar o falecimento de Michael. Na ocasião, as exibições de imagens de arquivo do cantor em ação por parte das emissoras ainda eram tímidas, em função do risco de todo aquele alvoroço - mesmo com tantas evidências - não passar de mais uma invenção da imprensa marrom. É como eu sempre digo: seguro morreu de velho!

Aos poucos, CNN, ABC, NBC, The New York Times, entre outras, começavam a confirmar o fim da trajetória cinquentenária de um dos maiores astros que o showbiz já presenciou. Mesmo assim, mais do que nunca aquele "pé atrás" era fundamental, pois vai que realmente se tratava de mais um dos tantos boatos que cercaram a vida do eterno Rei do Pop. Por isso, os GCs ainda creditavam o LA Times como responsável pela notícia ou ainda mantinham a dita "internação em coma", mesmo com praticamente todas as redações dando como certa sua morte.

Enfim, veio o anúncio oficial. Momento que pode ser sintetizado por William Bonner no Jornal Nacional da última quinta (a apresentação do JN estava em andamento na ocasião do pronunciamento): "CONFIRMADO: MICHAEL JACKSON ESTÁ MORTO!".

Já que os não-diplomados estão em evidência em virtude do maldito STF, taí uma legítima aula de Jornalismo proporcionada pelo triste acontecimento que até agora mantém o mundo estupefato (de minha parte, a ficha ainda vai demorar a cair). Uma aula que pôde ser perfeitamente presenciada por não-universitários, que se por acaso vierem a disputar um emprego com pessoas de formação superior, pelo menos têm que memorizar essas lições que a cobertura da morte de Michael ensinou.

Quando não der para checar se algo é ou não real, enquanto não surgir um pronunciamento oficial por parte da instituição envolvida, não saia por aí divulgando notícias como verdadeiras, baseadas apenas em informações de terceiros. E como tivemos terceiros - e até quartos e quintos - neste caso...

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